Uma justa homenagem a Marilyn Monroe

Foi aberto hoje o 65º Festival de Cannes. No cartaz do evento, uma imagem que nos rouba a atenção antes de pensarmos nos filmes e diretores que este ano concorrem à Palma de Ouro: Marylin Monroe, linda, assoprando uma velinha em um bolo de aniversário.

O uso da foto é proposital: a morte da eterna diva completa 50 anos em 2012 e não poderia passar batida. Quando o cartaz foi lançado, a organização do festival distribuiu um comunicado à imprensa, justificando a escolha: “Marilyn continua sendo uma das principais figuras do cinema mundial, referência eterna e decididamente contemporânea da graça, do mistério e da sedução”.

Cartaz do 65º Festival de Cannes

Verdade. Quem de nós seria capaz de pensar sobre ela e não concluir que Marilyn foi uma linda atriz e um ícone de sensualidade e sexualidade, da forma mais elegante que já se viu? Marilyn era uma estrela, alguém que transpirava glamour, desde sua aparência física (Como resistir àquela combinação de cabelos loiríssimos e batom vermelho, tão característica dela?) até o jeito como caminhava e se movia ou, para ser mais específica, apagava uma simples vela em um bolo de aniversário.

Acredito que pelo menos de primeira ninguém pensaria em nada além disso.

Mas, se nos aprofundarmos um pouco na história de vida da atriz, perceberemos que sua personalidade tinha camadas mais profundas e nem tão glamourosas assim. E é justamente nessas camadas que se baseia o longa Sete dias com Marilyn, do diretor Simon Curtis, em cartaz nos cinemas.

Eu assisti na semana passada e me surpreendi ao ver retratada (e muito bem) uma Marilyn mais sombria, quase dominada por oscilações de comportamento e inseguranças. Uma Marilyn que usava medicamentos para dormir e se acalmar em excesso, tinha ataques de estrelismo e era sufocada por bajuladores, dos quais ela não parecia querer ou poder se livrar, ainda que se sentisse prisioneira.

Mas, mais que o “lado B” da atriz, o que me surpreendeu de verdade no filme foi a atuação de Michelle Williams no papel da diva.

Ainda que as semelhanças físicas entre as atrizes quase não existam, o trabalho de maquiagem e figurino foi bem realizado e ajudou Michelle a dar vida a um dos mais importantes ícones do cinema mundial de uma maneira praticamente perfeita. Ela absorveu trejeitos, modo de falar, de andar, de dançar e, acreditem, até de cantar, de uma maneira muito natural.

Se o filme evidencia o turbilhão de emoções que foi aquele período da vida da diva, Michelle encontra a forma de nos mostrar que talvez a razão daquilo tudo – até das super chatas (eu disse super!) crises de estrelismo protagonizadas por uma Marilyn mimada – fosse mesmo a imensa fragilidade emocional da atriz. Mas ela não era uma vítima, e isso também fica claro graças à Michelle.

Michelle Williams caracterizada como Marilyn Monroe

No ano passado, ao ser entrevistada pela revista Vogue americana (ela foi capa da edição de outubro), Michele contou que se preparou por seis meses para viver Marilyn no cinema. Ela leu biografias, diários, cartas, poemas, viu fotografias e assistiu a filmes, além de ouvir as músicas gravadas pela diva. Ela sabia que estava prestes a interpretar um ícone e que isso não seria fácil.

Mesmo porque Michelle não tinha papéis muito brilhantes no currículo. Lembro dela em Dawson’s Creek, claro, e em filmes legais, como Ilha do Medo, do Scorsese, no qual interpreta a esposa meio morta-viva do Leonardo DiCaprio; e My Blue Valantine, de Derek Cianfrance, fazendo o papel de uma dona de casa frustrada com o casamento e a vida a dois. Mas são apenas boas atuações, nada que chegue perto do que a atriz alcançou em Sete dias.

Seja lá o que ela fez para cumprir o desafio que era ser Marilyn Monroe por algum tempo, deu certo e, para mim, sua interpretação ganha de lavada de qualquer homenagem que alguém tenha feito nesse ano tão marcante. Michele “merece uma estrelinha” e eu garanto: vale uma ida ao cinema para vê-la.