O mito volta à cena

Mais do que um clássico, uma verdadeira referência das gerações de 1980 e 1990, Curtindo a Vida Adoidado, escrito e dirigido por John Hughes, marcou a vida de muitos jovens com o “dia de folga” mais desejado de todos, arranjado pelo célebre  Ferris Bueller, que, digo sem exagero, virou um verdadeiro mito. Pois o filme voltou a ser pauta desde ontem na internet, quando um usuário postou no You Tube o que seria um teaser para o Super Bowl, o maior evento esportivo dos EUA, em que Matthew Broderick volta a encarnar o personagem.

No vídeo, de apenas 10 segundos, Matthew aparece de roupão, abrindo as cortinas de um grande quarto e dizendo: “Como eu posso trabalhar em um dia como este?”, em uma clara referência a uma das cenas iniciais do longa de 1986. Até agora, ninguém sabe exatamente do que se trata, mas o usuário, na descrição, afirma que tudo será revelado no dia do Super Bowl. Confira abaixo:

O burburinho começa: será a tão esperada sequencia ou apenas um comercial? Devo confessar que, por mais que eu seja fã (acho que é o filme que mais vi na vida), não estou tão otimista desta vez. Acredito mais na segunda opção.

Por que tão incrédula? Bem, primeiro porque comerciais “especiais” são comum nos EUA em época de Super Bowl. Segundo, porque nunca mais se ouviu falar sobre o único projeto de continuação do filme – um roteiro escrito por um desconhecido de Hollywood, Rick Rapier. Suas primeiras páginas chegaram a vazar na internet no ano passado (se souber ler em inglês, você pode conferir aqui), quando o longa completou 25 anos, mas a última notícia que vi sobre o assunto era a de que o script estava nas mãos de grandes companhias cinematográficas, em análise. Um avanço, sim, mas nada concreto.

O roteiro de Rapier previa os mesmos atores do original. Na história, Ferris, agora quarentão, tornou-se um bem sucedido empresário graças ao seu programa de motivação pessoal – baseado na ideologia de que “a vida passa muito rápido”. Seu amigo e fiel escudeiro, Cameron Frye (Alan Ruck), é quem cuida de seus negócios. A namorada de colégio, Sloane (Mia Sara), virou estrela de Hollywood e irmã do protagonista, Jeannie (Jennifer Grey – a eterna Baby, de Dirty Dancing) casou-se com “aquele cara da delegacia”, vivido por Charlie Sheen. Até o diretor Rooney (Jeffrey Jones), perseguidor de Ferris na época do colégio, voltaria à cena.

A julgar pelo luxuoso quarto que aparece no comercial, o texto de Rapier pode até ter sido usado como inspiração, mas acho que qualquer roteirista iria prever um futuro de sucesso para o “rei da salsicha de Chicago”. Como Ferris poderia não se dar bem na vida? O cara era o máximo!

De qualquer forma, o retorno de Bueller pode apresentá-lo às novas gerações e isso, ao meu ver, é ótimo. O filme me encantava quando criança. As sequencias iniciais, em que o protagonista falava com a câmera (linguagem até então, para mim, inovadora) e a cena da parada, em que todos dançam Twist and Shout sob o comando de Ferris foram o que me fizeram parar, pela primeira vez na vida, para pensar como o cinema pode ser legal. E eu devia ter uns 4 ou 5 anos quando fiz essa reflexão. Além disso, foi minha primeira referência aos Beatles, que posteriormente, também me fascinariam completamente.

Agora é aguardar o dia 5 para descobrir do que o vídeo se trata e torcer para que não estraguem os personagens de Hughes. E salve Ferris!

 

Update:  Como previsto, o teaser era um comercial. Tratava-se da nova propaganda da Honda, dirigida por Todd Phillips, de Se beber, não case 1 e 2 e veiculada no Superbowl. No vídeo, Matthew Broderick não interpreta Ferris, como era esperado, mas sim ele mesmo fingindo estar doente para não ir trabalhar como ator (em uma releitura da fuga de Bueller do colégio). O resto do comercial é uma reedição de várias cenas famosas do filme original, trocando a clássica Ferrari do pai de Camaron pelo Honda CR-V.

A ideia foi ótima, o resultado nem tanto. Deixou a desejar frente ao “mito”.

Confira o comercial:

A Mallu Magalhães cresceu

Uma das primeiras notícias que li hoje pela manhã foi a do lançamento do primeiro videoclipe do disco Pitanga, o novo da Mallu Magalhães. Velha e louca foi lançado nos cinemas (antes das exibições do filme As aventuras de Tin Tin – O segredo de Licorne) e também no Youtube, onde já contabilizava, lá pelas 12h desta quarta-feira, quase 90 mil acessos.

Primeiro, gostaria de dizer que Mallu fez um bom trabalho. Ótima escolha de local, fotografia, figurino e uma edição bem bonitinha também. Parece que finalmente ela conseguiu romper aquela barreira de infantilidade que cercava tudo o que ela fazia ou cantava. Até mesmo a letra da música (aliás, das músicas do álbum; parei para ouvir atentamente) comprovam que a menina está crescendo, dando espaço para uma mulher mais adulta, pessoal e musicalmente.

Minha suspeita também se confirma nas entrevistas recentes de Mallu. Pesquisando brevemente sobre o que ela tem feito, me deparei com declarações em que ela afirma ter descoberto sua feminilidade e sua maturidade.

Mallu Magalhães em foto de divulgação de seu novo álbum, Pitanga

“Acho que o conceito “mulher” é tão amplo quanto o “criança” ou “menina”… Não acho que eu tenha virado nada para sempre. Minhas experiências me fizeram crescer e amadurecer, mas muitas vezes ainda me sinto um bebê. Outras vezes, me surpreendo com meus pensamentos adultos. Acho que sou um pouquinho de tudo, mas sinto que, atualmente, na maioria das vezes me vejo mais como uma mulher”, disse ela, em entrevista à Revista Época.

Ao site Ego, ela atribuiu o processo de amadurecimento ao relacionamento com o músico Marcelo Camelo, do Los Hermanos. “Ele (Marcelo) me trouxe a descoberta da feminilidade, e até uma mudança de estilo. Hoje tenho muito mais coragem em tudo, até com a música”.

Apesar de estar crescendo, Mallu ainda parece carregar o estigma de infantil e, sim, de chata, que a acompanhava quando ela surgiu na internet, em 2008. Tudo bem que naquela época ela colaborou. Como esquecer, por exemplo, de suas apresentações em programas de TV, quando parecíamos estar diante de uma daquelas criancinhas malas que vão ao Raul Gil?

Não esqueceremos. Porém, também acho válido não deixarmos de lembrar que, em 2008, Mallu era apenas uma menina de 16 anos que divulgou por conta própria algumas músicas suas na web. Os temas das composições eram bobos? Ela se comportava como uma criança no palco? Talvez tudo isso fosse o resultado do universo dela naquela época, que obviamente tinha as limitações de sua idade. Quem sabe até mais limitações do que o seu ou o meu universo tinham. Mas e dái? Que atire a primeira pedra quem parecia maduro aos 16.

Não vejo por que, então, não dar um crédito para o Pitanga. Já se passaram quatro anos…Custa ouvir rapidinho para ver se a gente gosta ou não? Só ouvir mesmo, sem ficar repetindo o tempo todo que em 2008 ela tinha uma música chatinha chamada Tchubaruba. Isso seria o mesmo que odiar tudo que vem da Maria Gadu só porque Shimbalaiê encheu o saco e até foi tema de personagem de novela. Não faz sentido, né?

E isso sem falar da revolta de muita gente com o relacionamento de Mallu com o Camelo (que, diga-se de passagem, não diz respeito a ninguém). Se a união dos dois é, para a cantora, o motivo de suas mudanças comportamentais, para mim, é mais uma razão usada por algumas pessoas para declararem ódio a tudo o que ela faz na vida.

Camelo, além de bem mais velho que Mallu, é integrante de uma das ex-bandas-atuais que tem os fãs mais xiitas que eu conheço (e olha quem escreve isso é uma GRANDE fã de Los Hermanos…). Esses mesmos fãs  criticam o relacionamento deles sem dó. Quando Camelo e Mallu começaram a fazer parcerias musicais(como no caso da citada Velha e louca), então , nem se fala…

E as críticas não se limitam aos fãs da banda. Ao assumirem seu relacionamento, os dois músicos passaram a lidar com o preconceito da sociedade em relação à diferença de idade no amor. Parece incrível a gente ainda estranhar algo desse tipo em 2012, mas é fato que todo mundo comenta. Considerando bom ou ruim, isso lá é importante na hora de se avaliar o trabalho de alguém?

Mallu está crescendo e, ao meu ver, seu trabalho como cantora e compositora também. Não sou tiete, mas admiro e respeito o desenvolvimento dela. Admiro  e respeito a renovação da música nacional, sem preconceitos infundados.

E não paro de me perguntar se toda essa crítica baseada em um disco lançado em 2008 e em reclamações sem propósito sobre a vida pessoal dela não soam atém mais infantis que Tchubaruba.

Abaixo, o vídeo de Velha e louca.

Campanha? Tô dentro!

Foi-se o tempo da grande massa ir às ruas lutar pelos seus ideais. E vale ressaltar que passeata pelos royalties financiada pelo governo não conta. Estou falando de manifestação popular mesmo. Aquela que é do povo para o povo sabe?! Então, essa há muito que não vejo.

Minhas últimas lembranças são das passeatas pelo Passe Livre que participei na época da escola. Estudei no Colégio Pedro II, escola pública federal, um dos poucos lugares que conheço onde ainda existe a tradição do “precisamos pintar a cara e sair às ruas”.  E com isso, tinha manifestação para tudo. Era a água gelada dos bebedouros, o ar-condicionado para as “saunas” de aula e, claro, o Passe Livre (garantia de passagem gratuita nos ônibus), essa tinha todos os anos.

Mas voltando, foi-se o tempo da grande massa ir às ruas se manifestar. E nas ruas foi mesmo, mas na internet… Ah, a internet!  Nunca vi lugar pra ter tanta gente engajada quanto nas redes sociais. E olha que é campanha para tudo.  É mulher que matou o cachorrinho, abuso sexual no BBB, salve os gatinhos, salve a floresta, salve o planeta. É tanta campanha que eu chego a ficar cansada só de ver.

E o melhor, ou pior, é a disponibilidade das pessoas para defenderem várias causas ao mesmo tempo. Na rua isso complicaria mais. Imagina compartilhar a campanha pelo abuso dos preços da passagem e correr para outra rua e curtir o apoio à necessidade de explicações do Fernando Bezerra. Ah não, ia dar muito trabalho, deixa ficar só na internet mesmo.

Na internet é muito mais fácil estar engajado. Será? O mais desavisado pode até achar que sim, mas eu, virginiana desconfiada, não acredito muito nessa história não. O problema das campanhas da internet é que elas somem na mesma velocidade que aparecem.

O prazo de validade dos movimentos organizados da web é curto. Em uma semana ninguém lembra mais. E se alguém comentar esse ainda é tachado de atrasado, “aquele que ficou muito tempo sem entrar na internet e pegou o bonde andando”. Coitado.

Que fique claro, não estou criticando as pessoas que utilizam as redes sociais para divulgar campanhas com que estejam realmente comprometidas. É inegável a facilidade que esses meios trouxeram a quem sabe se manifestar e leva isso a sério. Só estou comentando como é engraçado, para não falar trágico, que de uma hora para outra todo mundo virou politicamente correto, cidadão reivindicador dos seus direitos. Ou não. E eu fico com o não.

Já dizia minha avó: “Falar é fácil. Tomar uma atitude é que são elas”. Vejamos, andam comentando, curtindo, compartilhando e retuitando, que, por conta do abuso no aumento dos preços da passagem de ônibus a população é quem vai rir por último nas eleições de outubro. Será mesmo? Queria muito acreditar, mas meu jeito prático, pessimista, realista e chato, não me deixa. Aposto, querendo perder, que até lá já esqueceram, afinal o que são 0,25 centavos não é mesmo?

Enquanto isso, vamos aguardar a próxima campanha, porque afinal todo mundo quer se manifestar. Todo mundo inclusive a Luiza, que já voltou do Canadá.